Em virtude da rotina corrida, tenho cada vez mais ido sozinho aos jogos do Vasco. O que pareceria um programa entediante, tem se tornado muito agradável, permitindo conhecer gente nova. No último sábado, tive o prazer de bater um papo com um senhor de Maceió, que estava no Rio e aproveitando pra ver os jogos de seu time de coração. O texto de hoje fala sobre o que conversamos antes e, principalmente, durante o jogo, em um contraponto do que o coração pede e o que a razão demonstra.Seja no Vasco, no Barcelona ou no time de pelada, quando as coisas vão mal, de quem é a culpa? Do treinador, claro. E em nosso Clube, a coisa parece ser mais grave. Para enorme parcela da torcida, Cristóvão Borges tem um carimbo de interino na testa, como se nunca pudesse ser técnico de uma equipe da grandeza da nossa. Os acertos são sempre mérito dos atletas ou de Ricardo Gomes (que hoje completa um ano do AVC, com a saúde cada vez melhor). E os erros? Evidentemente, culpa do Cristóvão.
De nada vale o retrospecto desse um ano de serviços prestados. O Vasco lutou pelos títulos de TODOS os campeonatos de que participou. Ah, não venceu! Não venceu porque não era o melhor, com exceção do campeonato carioca, onde as atuações ruins em final de turno jogaram fora as chances de título.
O que talvez seja difícil de muita gente enxergar é que o Vasco tem um time muito inferior ao que a gente supõe. O elenco tem carências evidentes e é pequeno, com poucas peças de reposição. Já era assim há meses atrás e ficou muito pior com as saídas de Fágner, Rômulo, Allan e Diego Souza, quatro jogadores que estão entre os melhores do Brasil em suas posições.
E aí o “incompetente” treinador tem que se virar pra manter o (agora mediano) time lá em cima, lutando contra elencos muito superiores. Neymar ficou fora do Santos por um tempo e o Muricy fez milagre? Palmeiras cheio de desfalques, Felipão os colocou na briga pelo título? Luxemburgo cansou de pegar elencos estrelados e ganhou o quê?
Voltando ao jogo contra o Fluminense. O time deles é bastante melhor que o nosso. Mesmo assim, fomos muito superiores e não vencemos por causa da arbitragem. Mas diz a lenda que o Brasil é um país de 190 milhões de treinadores e meu colega alagoano reclamou quando viu a escalação com William Barbio como titular.
Tudo bem, o Cabelereira está longe de ser o jogador de nossos sonhos. Tecnicamente é o pior jogador do elenco, errando em fundamentos básicos. Porém, jogador de futebol, como todo profissional, tem uma função, e ele era o único capaz de fazer aquele lado direito. Em momento algum ele foi atacante e pedir Tenório em seu lugar seria como pedir a um dentista que cuide do coração do paciente.
Jogamos com duas linhas de quatro, com Carlos Alberto e Alecsandro à frente. Por isso foi o camisa 10 quem saiu para entrada do Demolidor. Se saísse o Barbio, quem faria aquele lado direito, avançando e também acompanhando o Carlinhos quando este avançava?
Ah, tem o Felipe. Tenho enorme carinho pelo Maestro. Tenho até camisa com a charge dele. Só que esse ano ele jogou bem pouquíssimas vezes e isso não dá pra esconder. Olhando esse esquema do jogo de sábado, onde ele se encaixaria? Pelo lado, marcando o lateral adversário? Impossível! No meio, em lugar de Nilton ou Juninho? Sobra o ataque e aí fica ao gosto do cliente escolher entre Carlos Alberto ou Alecsandro. Poderia também mudar o esquema, mas aí sim seria incoerência e burrice.
Ao contrário do que pode dar a entender, esse texto não tem por objetivo defender o treinador ou dizer que ele nunca erra. Erra, como todos os que passaram pelo Vasco desde que me entendo por gente. Vejo o pessoal mitificando Ricardo Gomes e Dorival Jr., mas lembro-me bem do tanto que estes eram criticados quando estavam lá sentados no banco.
Se caímos para o quarto lugar, o último dos culpados é Cristóvão. Os três times que estão a nossa frente são bem melhores do que o nosso. Culpa da diretoria, que viu as estrelas indo embora sem nenhuma reposição à altura.
Torço muito para que não aconteça, mas caso o presidente cometa a insanidade de mandar nosso técnico embora, a primeira coisa que o próximo vai fazer é pedir jogador.
Torço mais ainda para que o Vasco lute pelo título ainda neste ano. Só que analisando friamente, isso é impossível com o elenco atual. Uma vaga no G4 já será motivo de muita alegria.
E se no final das próximas 19 rodadas eu me mostrar enganado, serei o burro mais feliz do mundo e aplaudirei de pé ao ótimo Cristóvão, que terá tirado leite de pedra.
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