sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Tragédia anunciada ou fatalidade?

Na manhã desta quinta-feira, faleceu em Itaguaí o jovem Wendel Junior Venancio da Silva. O rapaz de 14 anos fazia testes para integrar a base do Vasco, quando sofreu um mal súbito e caiu no gramado. Levado a uma Unidade de Pronto Atendimento no município, ele não resistiu e veio a óbito. O fato volta a levantar o debate sobre a forma com que nossas divisões de base vêm sendo tratadas nos últimos anos.

Wendel veio de São João Nepomuceno (MG) para um período de avaliações no Clube. Quem o trouxe foi o ex-lateral Marco Aurélio Ayupe, que o hospedou na casa de uma senhora próximo ao Clube. O procedimento é habitual em testes por todo o país. Segundo a diretoria do Vasco, o jovem apresentou atestado médico que o liberava para a atividade esportiva. Aí começa a questão do quanto a responsabilidade é do Clube ou não.

Em 2003, fiz testes semelhantes a este em uma tentativa de ingressar na categoria juvenil. Não me foi pedido nenhum exame sobre aptidão para a atividade. Nem mesmo no exército, também em testes físicos, debaixo de um sol imenso, como o que fazia ontem. Considerando que em uma avaliação, o candidato dá tudo de si, passar mal por causa de calor não necessariamente é oriundo de uma predisposição física.

Aí vem o outro lado da moeda. Não havia médico no local. É inadmissível que em um local onde dezenas de jovens pratiquem atividade física de alto rendimento, não haja um profissional apto a atendê-los em caso de enfermidades. Em 2003, minha avaliação foi no Vasco Barra e ao sofrer lesão grave, fui atendido pelos médicos do futebol profissional, que treinava no local.

Apesar da atual separação, é dever do Vasco deslocar ao menos uma pessoa pra Itaguaí, seja em dia de testes ou em dias de treinos dos jovens vinculados ao Clube. Wendel poderia até ter morrido na hora, mas o atendimento com certeza teria sido mais rápido do que o encaminhamento à UPA e a chance de salvá-lo, muito maior.

O falecimento levanta novamente a polêmica sobre a forma desleixada com que nossas divisões de base vem sendo tratadas. Desde a falta de aproveitamento no profissional até coisas primárias, como a ausência de alimentação básica para os meninos.

No caso de Wendel, ele não jantou no Clube na noite anterior, o que acredito não ser de responsabilidade do Vasco dar alimentação para quem está fazendo teste. Porém se os rapazes vão a São Januário de manhã e de lá partem para Itaguaí, não custa dar café da manhã, já que o desjejum é fundamental.

Pior que isso é a condição do ônibus, para uma viagem longa. Relatos dão conta de que o mesmo vive enguiçando e os jogadores voltam cedo, para almoçarem em São Januário. Não seria mais inteligente fazer a comida no Centro de Treinamento?

O fato é que o desleixo é total. Vendemos recentemente Alex Teixeira, Souza e Philippe Coutinho e o dinheiro não foi investido para dar melhores condições para gerar novos craques. Pelo contrário, a cada dia que passa as condições só pioram e em breve não revelaremos mais ninguém. Que jovem vai querer treinar num Clube como esse?

Vá ao Nova Iguaçu, ao Madureira, ao Olaria e veja as condições. Todos dão de goleada no Vasco. E olha que eles não vendem jogadores pelo preço que nós vendemos. Dinheiro ganho com a base tem que ser gasto com a base, em um ciclo virtuoso.

Que a tragédia dessa quinta-feira, sirva de marco para uma nova era em nossas divisões de base. E que de alguma forma em um novo CT, ocorra uma homenagem a Wendel, vítima de uma fatalidade, mas que poderia ter acontecido mesmo com alguma promessa já federada, da forma que nossas crianças vêm sendo tratadas no Vasco.

Imagem: Beto_Gomes


Sds vascaínas a todos!

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