Alguém me acorda desse pesadelo

Chego em São Januário por volta das 20:30 da noite. As ruas tomadas de carros e torcedores e logo vou pro final da imensa fila para entrar no estádio. O mar de gente do lado de fora caminha a passos lentos e faltando poucos minutos para o início da partida ainda estou na rua, ouvindo os cantos da torcida, os apitos e a queima de fogos.

Procuro desesperadamente outras entradas, na verdade todas, mas por ordem do policiamento, estavam trancadas, devido à super lotação do Caldeirão. Sem chance de entrar (mesmo com ingresso na mão) paro em um bar em frente ao estádio para assistir ao jogo. A essa altura o primeiro tempo já estava rolando. Torcedores revoltados tentam arrombar as entradas e de forma truculenta a polícia parte para cima de todos que estavam na rua. Mulheres, idosos, crianças, donos de bar e camêlos. Com bombas de efeito moral, spray de pimenta, cavalos e cacetetes, aqueles que seriam responsáveis pela ordem instauram o caos.

Bares quebrados, pessoas sangrando, caídas, carros e motos danificados...uma verdadeira cena de guerra onde não houve vencedores, só perdedores. Fico mal por causa do gás de pimenta, mas minha namorada toma uma pancada de cacetete que deixa uma marca roxa e uma dor imensa em sua perna.

Por que, Deus meu, logo eu que compareci e apoiei o time em todos os jogos esse ano, logo no mais importante ficaria do lado de fora? E ainda por cima apanhando como um marginal?

Não ouço nenhum grito de gol vindo do estádio e deduzo que o placar do primeiro seja mesmo o 0x0. No intervalo, tento fazer valer meu direito de sócio do clube, mas na social sou tratado com a mesma truculência pelos seguranças do Vasco do Eurico. Sim, isso não é o Vasco da Gama. É o Vasco do Eurico, um Vasco que eu não gostaria de ver e vivenciar.

Revoltado, me passa pela cabeça processar o Clube. Odeio essa diretoria com todas as minhas forças, mas com lágrimas no rosto amo o Vasco ainda mais. Só de escrever aqui, elas me voltam aos olhos...

Paramos em um bar em frente à entrada social e junto com centenas de vascaínos vemos o jogo, ouvindo ao fundo os gritos oriundos do estádio. De forma estabanada o time pressiona, chegando ao gol aos 12 minutos, com Leandro Amaral. O juiz, entretanto, anula marcando impedimento de Pablo, erradamente (vejam ao lado). Na verdade ele roubou, da mesma forma que roubou lá em Recife. Aliás, alguém me responda: em algum outro lugar do mundo se coloca o mesmo árbitro para apitar duas partidas semifinais? Coisas da CBF rubro-negra...

O Vasco segue pressionando e Magrão salva o Sport. Aos 19 não teve jeito pra eles. Leandro Amaral de peixinho faz 1x0 pra nós. Explosão dentro do estádio e no bar. Mesmo ali de fora, cantamos e tentamos de alguma forma mandar energia positiva para os jogadores. Luizão é expulso, mas no embalo da torcida o Vasco segue pressionando.

Aos 40, Enílton chuta na trave de Tiago e falo pra minha namorada: "tá tudo dando certo, vamos fazer o segundo". Demorou, mas nos acréscimos a sorte nos sorriu. Pablo chutou, o goleiro deu rebote e Edmundo marcou o segundo. Chorei como criança. Depois de tudo que tinha passado aquela noite, seria um sonho ver o Vasco classificado. Será que os tais Deuses do futebol teriam sorrido para o Vasco? Tudo indicava que sim.

Fim de jogo e pênaltis. Não tinha como dar errado. Um gol heróico, aquele estádio lindo, aquela torcida maravilhosa. Enfim chegava a hora de fazermos história. Todos eufóricos e cantando dentro da Colina e ali no bar. Éramos as gotas que entornavam do Caldeirão.

Não tinha como dar errado, mas deu. Logo na primeira cobrança. O craque, o ídolo, o até então herói da noite Edmundo chutou nas nuvens. De novo Edmundo, como tantas outras vezes. Não tinha como xingar ou vaiar. Meu olhar se perdeu no vazio. Se seguiram mais nove cobranças. Até os goleiros converteram e o guerreiro Sport se classificou.

Caminhei em silêncio rumo ao ponto de ônibus. Olhava pro nada. Discretamente me beliscava pra ver se acordava do pesadelo. Cheguei em casa depois das duas da madrugada. Era difícil falar. Também não conseguia chorar. Foi difícil dormir. Até quando vai durar nossa maré de azar? Tudo bem que pênalti é competência, mas quatro eliminações nos penais em apenas dois anos é muito pra mim. Será que todos os trabalhos de Pai Santana hoje se voltam contra nós?

Estou triste, abalado. Hoje passei por São Januário e ao beijar a tatuagem da Cruz de Malta chorei. Porque o sentimento não pode parar. Sábado tem mais e lá estarei novamente, porque esse amor está acima de tudo.

Vasco, te amo incondicionalmente. te amo com todas as minhas forças. Esse amor é a única coisa que posso dizer que será eterna na minha vida. Te amei em outras vidas, te amo nessa e te amarei na eternidade.

Lógico que quero sempre que vença, mas parece que a cada dor, a cada derrota esse amor cresce exponencialmente. Ontem foi sem dúvida meu pior dia como torcedor. Aguardei ansiosamente esse dia e fiquei do lado de fora. A derrota aumentou ainda mais a dor, mas ao escrever esse texto e desabafar com vocês me revigoro.

Nunca me cansarei de cantar:

DE TODOS OS AMORES QUE EU TIVE ÉS O MAIS ANTIGO

O VASCO É MINHA VIDA, MINHA HISTÓRIA MEU PRIMEIRO AMIGO

QUEM NÃO TE CONHECE ME PERGUNTA PORQUE TE SEGUI

EU LEVO A CRUZ DE MALTA NO MEU PEITO DESDE QUE EU NASCI

E EU NÃO PARO, NÃO PARO NÃO

A CRUZ DE MALTA MEU CORAÇÃO

VASCO DA GAMA, MINHA PAIXÃO

VASCO DA GAMA, RELIGIÃO

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Respondendo aos comentários:

Fernando - Não pude ser um dos presentes ao estádio, mas nossos jogadores lutaram, mas infelizmente perderam. Abraços!

Munigalo - Putz 2x0, mas deu eles nos pênaltis. Abraço!

Rolablog - Placar pela metade. Abraço!
Aline - Não deu, mas em breve espero vê-la na Colina. Sds!
Jorge - Quase deu, apesar do péssimo primeiro tempo. Abraço!
Vinicius - Uma pena para todos, mas o Sport fez por onde e ficou com a vaga. Agora é lutar no que restou no ano.
Diogo - Péssima cobrança do Edmundo e uma pena para todos.
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Sds vascaínas a todos!